Claudio Ulpiano

Claudio Ulpiano nasceu em Macaé, em 1932. Começou sua carreira acadêmica no final dos anos 70, dando aulas na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e na UFF (Universidade Federal Fluminense). Era fácil descobrir em que sala da universidade ele se encontrava, e mesmo em que corredor ficava esta sala. Uma multidão de alunos, vindos de diferentes cursos e até de fora da instituição, lotava o local onde ele estava dando aula, espalhando-se pelo chão, pelo corredor, usando até mesmo o espaço das janelas para garantir um lugar.

Os anos 80 marcaram o início dos inúmeros grupos de estudo que se formaram em torno dele. O primeiro aconteceu no próprio apartamento de Claudio, na rua Araucária, onde alguns alunos da UERJ e seus amigos passaram a se encontrar todos os sábados para assistir aulas que podiam se estender por dez horas seguidas. Pouco depois, foi um grupo de professores da UFF que começou a se reunir no apartamento de um deles. Deste segundo grupo originou-se a primeira turma formada por alunos que não vinham diretamente das universidades onde Claudio era professor. Daí em diante, esses grupos independentes se disseminaram pelo Rio de Janeiro, reunindo pessoas de todas as idades e profissões. Os cursos aconteciam não só nas casas dos alunos, mas também em espaços alternativos, escolas particulares, centro culturais etc. De 1980 até 1998, quando a doença o impediu de continuar, suas aulas seguiram atraindo um público cada vez maior e mais variado: estudantes, cientistas, músicos, donas-de-casa, economistas, empresários, artistas de todas as áreas etc.

Ulpiano não fazia distinção entre a filosofia e a vida, ou entre pensar e viver. Para este filósofo, pensar era um ato que servia, acima de tudo, para aumentar a potência da vida – da vida de cada um, e da Vida em si mesma. É por essa razão que suas aulas marcaram de modo indelével o espírito de todos que as assistiram.

Para Claudio, que conhecia tão profundamente a história da filosofia, que dominava com tanta facilidade a diversidade dos saberes, o que importava era atingir, através do pensamento, a mais difícil das questões humanas: a finitude. Ele trazia esta questão até cada um de nós, forçava-nos a pensá-la, e procurava, com o rigor do seu saber e o encanto da sua criatividade, a saída mais bela: a da ética. A luta mais essencial: a da liberdade. Uma pergunta se levantava ao final das suas aulas, e continuava ecoando quando voltávamos para casa. Era como se o filósofo nos perguntasse silenciosamente: O que fazer com a nossa única vida? – ao mesmo tempo em que nos ensinava, com o exemplo dos gregos, e nos instigava, com a beleza de suas aulas, a fazer desta única vida uma obra de arte.

Silvia Ulpiano

 

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