2 comentários em “Aula em vídeo: Pensamento e liberdade em Espinosa”

  1. Proust experimentou torradas Petrópolis!

    Na minha modesta capacidade de observação e entendimento, como aluno “de corpo presente” (êpa!), que tive o privilégio de ser, o Cláudio tinha duas vertentes em seu pensar:

    (1) O estudo solitário e ao mesmo tempo populoso, quando, debruçado sobre “vários livros de uma só vez, espalhados pela mesa”, estudava uma questão e suas correlações (ou talvez fosse mais exato dizer: a correlação entre várias questões [seus agenciamentos ou sua transversalidade]). Uma espécie de “sessão espírita” com uma junta de autores – filósofos, artistas, homens de ciência – vivos ou mortos. Em que ele fazia o papel de médium, por assim dizer, e formatava as mensagens, não do “além”, mas do “aqui mesmo”, ou do ‘aqui-agora’ (também chamado Imanência). E

    (2) Um segundo momento, junto aos alunos (e afinal isso continua, através de aulas transcritas, em áudio ou em vídeo!) quando transmitia seu pensamento, mas totalmente modificado, renovado, ‘repetido e diferente’, nas aulas. Um pensamento em ato.

    Talvez aja um terceiro momento, mas que depende de cada um de nós, seus estudantes, no qual o pensamento do autor (Cláudio) deve ser retomado e busca-se produzir a recombinação desse pensamento com o mundo. O que o próprio Cláudio, em sua aula sobre Espinosa definia como “o devir da obra” (em contraposição à recuperação “daquilo que disse o autor”).

    E essa reapropriação das obras, que pode ser feita pelo estudante em suas experimentações, Cláudio nos mostrava, por exemplo, com suas várias técnicas de explicação (explicare/implicare: dobrar/desdobrar o que se encontrava amassado; como uma folha de papel amassada, contendo uma ideia: eis o que deve fazer um explicador).

    Todo pedagogia que se preza é a provocação de um encantamento. De uma admiração. E ensinar é ser dotado de uma variedade de meios de promover esse encanto, essa alegria. Ora, a sedução é um aspecto notório do nativo de Escorpião (ele em 17/11). Só que nesse caso, o encanto, a admiração, a sedução, serviam, pura e simplesmente, para propiciar o entendimento.

    Por exemplo, ao introduzir o tema do mergulho no tempo realizado por Proust, em sua obra principal (“Em Busca do Tempo Perdido”), ao referir-se à célebre passagem em que o sabor das madeleines provoca o surgimento de uma lembrança, Cláudio substitui o biscoito francês por “torradas Petrópolis”, trazendo prá mais perto de nossos paladares a manobra literária proustiana…
    E vê-se no som de sua voz o sorriso moleque da pausa que se segue. Pra que possamos sentir o gosto da torrada e lembrar… e pensar…

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  2. Na verdadeira “Biblioteca da Babilônia” (J. L. Borges) que é essa aula, pela grande quantidade de temas introduzidos, prontos a serem retomados pelos pelos espectadores, a referencia ao espinosismo de Foucault, logo no início da aula, através do tema do “cuidado de si” (“confronto agonístico consigo mesmo”, como diz o Cláudio) entre os gregos do séc. IV A.C., uma entrevista de Foucault a Dreyfus e Rabinow, em 1983, ilustra e aprofunda este ponto. Vide “Dossier Foucault-Últimas Entrevistas”, p. 41-71; Carlos Henrique Escobar (org.) (Taurus, Rio de Janeiro, Rj, 1984),

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