Aula de 19/12/1995 – A dobra e o barroco – Clarões orgânicos na noite escura

(…) Sempre é difícil acompanhar; então, durante algum tempo até eu dizer “agora”, não é propriamente aula: é uma fundamentação para uma aula que eu vou dar.Eu vou começar dando fundamentação e, à partir dessa fundamentação, a aula começa. Aí eu aviso “vai começar a aula agora. O que vocês podem fazer é se sustentar naquilo tudo que eu fundamentei, tá?!
 
Eu vou começar . Cada tema que eu falar, vocês dizem “já entendi”. Porque a partir desses temas é que a aula vai se desencadear.
 
No século XVII um filósofo chamado Leibiniz. Um filósofo ¬difícil se considerar o que eu vou dizer¬ um filósofo Barroco, integralmente Barroco. Ele, entre outras práticas,  constituiu um conceito que pode receber o nome de harmonia pré-estabelecida ou harmonia universal. O Leibiniz construiu um conceito chamado ¬melhor¬ de harmonia universal.
 
O que quer dizer exatamente esse conceito de harmonia universal?
Quer dizer o seguinte: que tudo o que existe na Natureza… tudo o que existe na Natureza está ligado (uma coisa à outra). Então, não existe na Natureza, nenhum elemento dentro da Natureza, que não esteja relacionado a outro elemento. Então você nunca encontrará na Natureza o que se chama “estrutura atômica”. A noção de “estrutura atômica” é uma noção de alguma coisa isolada. Na Natureza não existiria nada que fosse isolado. Tudo estaria conjugado.
 
Muito bem… o que que ele estabelece? Ele estabelece que tudo na Natureza está em relação. A Natureza é uma rede é uma cadeia de relações. Isso chama-se “rizoma”.
 
Aluna: Rizona?
Claudio: Rizoma! (Claudio soletra: R-I-Z-O-M-A)
 
O que é um rizoma?
O rizoma é que tudo o que existe está relacionado. Tudo o que existe está relacionado.
Então vamos supor aqui… vamos lá…
 
Claudio pega um biscoito e fala: Biscoito. Olha esse biscoito aqui. (Para vocês entenderem, tá?!) Aí chega o rato. O rato entra em contato com esse biscoito. O rato entrou emcontato com esse biscoito.
 
Claudio pergunta: Se ele entrou em contato com esse biscoito, ele entrou em contato com todo o universo?
Aluna: Entrou, claro.
Claudio: Por que?
Claudio e alunos: Por causa da “harmonia universal”.
 
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O que esse filósofo está dizendo é que quando nós entramos em contato com um elemento qualquer, de imediato, nós entramos em contato com o universo inteiro.
Voltando… agora eu vou complicar um pouquinho…
 
Esse biscoito entra em contato com essa xícara. Isso significa que esse biscoito entrou em contato com o universo. Isso chama-se “harmonia universal”. A noção de “harmonia universal” estabelece uma ideia que é: logo que você se encontra com um elemento, isso significa que você se encontra com (agora eu vou complicar) com o infinito. Então o contato com um elemento só, remete você para o infinito da natureza.
 
A Natureza, ela é infinita, e todos os seres que estão na Natureza entram em contato com todos os seres.
 
Todos os seres que estão na Natureza entram em contato com todos os seres. Então vamos voltar… vamos voltar…
 
Olha esse biscoito aqui. Vamos fingir que esse biscoito seja um rato. Olha esse rato aqui. Esse rato, ele tem limites, olha só… ele tem limites: ele tem um lado, ele tem um outro lado menor e aqui ele vai aumentando. Ele tendo limites, isso significa que este ser que está aqui, ele é finito. Finito quer dizer: tem limites. Então esse ser que está aqui, ele é um ser limitado, logo ele tem limites. Mas quando ele entra em contato com outro objeto, logo em seguida ele entra em contato com todo o universo. O que significa que os seres finitos contém dentro deles o infinito da Natureza.
 
Claudio: Ficou difícil?
Aluna: Acho que não…
Claudio: Os seres finitos contém dentro deles o infinito da Natureza.
 
Esse filósofo do século XVII chamado Leibiniz vai dizer que estes seres finitos que têm dentro de si o infinito do mundo inteiro chamam-se “mônadas”. (Claudio soletra: M-Ô-N-A-D-A)
 
A mônada é aquilo que a natureza é constituída. A natureza é constituída por uma infinidade de mônadas. Mas cada mônada conhece o infinito da natureza, tá?!
 
Então todas as mônadas, elas têm dentro delas o infinito da natureza.

Agora veja…acho que foi compreendido, né?!
 
Compreendeu Luiz?
 
A mônada tem dentro dela o infinito da natureza.
 
continua…
 

Parte 1:
Parte 2:
Parte 3:

***

 
Esta é uma aula célebre. Além de ser belíssima, Claudio se aborrece no final. Irritado com o que chama de “tolices” , interrompe o que dizia, levanta-se e deixa a sala, e esta foi a única vez em que isto aconteceu. Para ele, a dificuldade de compreensão dos alunos não atrapalhava uma aula; mas o que chamava de “interrupções por conta de tolices”, era algo que o impedia de prosseguir.  Não cortamos estes minutos finais, pois eles expressam sua postura como filósofo e professor.

Na Parte II, entre os 23:36  e  27:47 minutos, há 4 minutos apenas de conversas indistintas, no intervalo para o café; mas depois a aula prossegue normalmente.
 
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3 comentários em “Aula de 19/12/1995 – A dobra e o barroco – Clarões orgânicos na noite escura”

  1. A moça que atrapalha a aula exemplifica bem um dos pontos abordados na própria aula: o aprisionamento produzido pelos clarões orgânicos. Quando ela diz “mas uma dobra para mim é uma mera dobra”, ela, sem saber, serve como demonstração do quanto é difícil sair dos clarões orgânicos. Já o Cláudio, quando diz que não vai aceitar “interrupções por conta de tolices”, deixa claro que ele não está ali para disputar com o senso comum, mas para ultrapassá-lo.

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  2. O cláudio era um gênio,não há outra maneira de definí-lo,a não ser que usemos o conceito de iluminado.Um gênio iluminado,cujos movimentos de pensamento levavam os ouvintes para fora d senso comum.

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